quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Blues para Marília IV


Não sei falar sobre Marília.
Sei apenas cantar essa cidade
que me inflama a memória.
Em minhas voltas no tempo
– quando é tempo de solidão –
algo distante ressoa, tremula
e sinto no coração em vigília
que me espera, distante, Marília.
Da rua onde cresci me chegam
as mais alegres lembranças
e do quintal da antiga casa
a mais impossível figura:
o face de Otília não é passado
mas a própria canção de Marília.
Não sei falar sobre Marília.
Sei apenas sentir essa cidade.
Eu a tenho em minhas mãos
e a sinto queimar minhas retinas.
Tudo isso está em minha pele
e é parte da parte de tudo que sou.
É por isso que digo à buganvília
– que rego e podo às manhãs –
que esse alvoroço em mim
esse intangível alvoroço que sou
é coisa de família
coisa que trago desde Marília.

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